O Mapa de Cantino. http://bibliotecaestense.beniculturali.it/info/img/geo/i-mo-beu-c.g.a.2.html
A Expansão Marítima e Comercial
O Cerco de Lisboa por D. Afonso Henriques. 1840,
óleo sobre tela, 1070 x 800 mm. Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto,
Portugal
É importante salientar que alguns fatores foram importantes para moverem
homens e navios em busca do novo e, se a busca pelo lucro foi a principal força
motora, não foi única, pois o espírito de luta religiosa e de aventura pelo
novo também povoavam a cabeça dos dirigentes das expedições.
A
crise do século XIV, a qual a fome e a peste bubônica mataram milhares de
pessoas, afetou a produção e o abastecimento do mercado europeu, trazendo
também desordem à política estabelecida na época. Para alguns autores,
buscou-se então uma solução externa para tais problemas.
Havia um déficit comercial em relação ao oriente o que provocava a escassez
de metais preciosos, pois não havia produtos europeus que despertasse tanto
interesse. Esta diferença atingia diretamente os preços e o volume do consumo.
Restava ao ocidente pagar défict da balança comercial com metais preciosos, que
tinha boa aceitação em qualquer lugar.
A elevação dos preços das
especiarias com domínio otomano das rotas orientais a partir da conquista de
Constantinopla em 1453, não foi motivo para o
processo expansionista, pois já havia começado. No máximo afetou as cidades
italianas, que, presas aos atravessadores muçulmanos, sentiu cada vez mais o
aumento dos preços dos produtos do oriente. Esse domínio muçulmano no máximo
intensificou o processo expansionista.
A Formação do Estado Moderno é um ponto chave no processo de expansão marítima. A burguesia lusitana
se aliou ao rei D. João I (D. João de Avis) para promover o fortalecimento do
poder Estatal com a implantação do Absolutismo Monárquico. A unificação do
território sob um poder central significava unir o mercado consumidor interno,
padronizar as leis e proteger o comércio, facilitando a vida dos mercadores.
Nessa época o Estado tinha “força” para promover uma “empreitada” de tamanha proporção
e de tão grande risco. No início do século XIV Portugal não estava gastando
recursos com guerras, o quando facilitou o seu iniciou de processo de expansão.
Ter uma burguesia que necessite de ampliação de mercado foi também algo
importante neste contexto. Pois os mercadores buscavam ampliar os seus
negócios. Eles desejavam quebrar monopólio das cidades italianas e da rota dos
muçulmanos que encarecia os custos das especiarias. A burguesia lusitana
pretendia aumentar os seus lucros, sendo que para isto era necessário acabar
com os atravessadores italianos e muçulmanos comprando o produto direto da
fonte, ou seja, as Índias.
Para finalizar não podemos esquecer-nos das inovações técnicas da época
como a adaptação da Bússola nos barcos, o uso do astrolábio (instrumento
muçulmano), a invenção da caravela, etc. Algumas invenções trazidas do oriente
foram adaptadas aos navios para permitir viagens em alto mar. A vela
triangular, por exemplo, era muçulmana. Na verdade, a ocupação muçulmana na
península Ibérica deixou alguns vestígios culturais, nesse caso, fundamentais
para a navegação. Vale também lembrar que ocorria o declínio do pensamento
medieval e o surgimento do “Renascimento” cultural, pois o movimento cultural
renascentista buscava o conhecimento pela razão, o que fez romper as idéias
medievais, facilitando a busca pelo novo.
A Motivação
Além do contexto em que a Europa
encontrava-se para impulsionar o processo de expansão, havia vários interesses
entre aqueles que se envolveram com as expedições, desde motivos políticos e
religiosos ao espírito de aventura dos que desbravaram os oceanos do planeta.
Costumamos enumerar alguns motivos como: a busca de novos mercados e produtos
pelos burgueses e mercadores; a procura de novas fontes de metais preciosos
para suprir o déficit comercial europeu, uma vez que suas fontes se esgotavam;
a conquista de novos territórios significava novas fontes de riquezas e mais
poder para o rei; buscava-se uma nova rota para as Índias em busca da fonte das
especiarias do Oriente, quebrando assim o monopólio italiano/árabe neste
comércio; havia o interesse religioso de expandir a fé cristã na luta contra o
infiel muçulmano que dominava as rotas comerciais era.
A
nobreza buscava se aproveitar dos benefícios desta expansão através do rei,
enquanto a igreja desejava aumentar o seu domínio religioso. Para os mais
humildes que entravam nos navios era uma tentativa de conseguir uma vida
melhor.
Na questão abaixo, podemos ver o tema sendo explorado:
1. (Uerj)
O mundo conhecido pelos europeus no século XV abrangia apenas os territórios ao
redor do Mediterrâneo. Foram as navegações dos séculos XV e XVI que revelaram
ao Velho Mundo a existência de outros continentes e povos. Um dos objetivos dos
europeus, ao entrarem em comunicação com esses povos, era a:
a) busca de metais preciosos, para satisfazer uma
Europa em crise.
b) procura de escravos, para atender à lavoura
açucareira nos países ibéricos.
c) ampliação de mercados consumidores, para
desafogar o mercado saturado.
d) expansão da fé
cristã, para combater os infiéis convertidos ao protestantismo.
O item d está errado, uma vez que o processo de expansão se inicia antes
de 1517, ano em que Martinho Lutero inicia o processo que desencadeou no
protestantismo. O erro da c está no fato de que o mercado europeu não estava
saturado. Na verdade a quantidade de especiarias que chegavam à Europa era
pequena comparando com o movimento comercial pós-expansão marítima. A b é
absurda uma vez que a implantação de lavoura canavieira também foi posterior ao
processo de expansão marítima. O gabarito é a letra a, confirmando um dos
motivos que levaram os europeus a se lançarem ao mar em busca do desconhecido.
Portugal saiu em primeiro
D. João I (de Avis) – Museu Nacional de História Antiga – Liboa
Os
romanos chamavam a região dos atuais Estados de Portugal e Espanha de Ibéria.
Esta área sofreu várias invasões e recebeu várias influências culturais. Passou
a ter então, de longa data, grande experiência naval. A Guerra de Reconquista,
onde cristãos expulsaram os muçulmanos da região explica a história da formação
dos Estados Moderno Absolutistas português e espanhol. Mas por que Portugal foi
o primeiro a fazer Expansão Marítima e Comercial? Por que a Espanha veio
seguidamente no processo? O que tem haver o Tratado de Tordesilhas com este
processo? Muito bem, agora vamos explorar estes temas.
Primeiramente
é importante ressaltar que Portugal foi o primeiro a se tornar Estado Moderno,
ou seja, centralizar o poder político e administrativo nas mãos do rei. Desta
forma, era possível canalizar as decisões estatais para um objetivo central. A
formação do Estado português esta associada com o apoio da burguesia mercantil
lusitana, que estava interessada no processo de expansão. Esta burguesia
cresceu ainda mais quando os portos de Lisboa receberam um aumento de
movimento, pois a guerra dos Cem Anos entre franceses e ingleses atrapalhava as
rotas terrestres. Portugal não gastava recursos com guerras, pois se encontrava
em paz política tanto dentro quanto fora do país. A experiência náutica de
longa data também foi um foi um fator de influência em seu pioneirismo, pois,
com as invenções náuticas trazidas de culturas externas como a bússola
(chinesa), o astrolábio (muçulmano), o quadrante (muçulmano) e a cultura de
pesca em alto mar para fazer o bacalhau, colocavam os portugueses na frente de
muitos reinos. Havia também o filho do rei, o Infante D. Henriques, um
incentivador da Expansão Marítima, e, em torno dele, os entusiastas e
interessados que se reuniam na cidade de Sagres, a qual se tornou polo difusor
da cultura náutica. Foi a partir daí que surgiu a famosa "Escola de
Sagres", tão importante na formação dos navegadores. Mas era o Estado quem
tinha condições de iniciar tamanha e arriscada empreitada, foi onde entrou os
diversos interesses dos grupos sociais que circulavam o rei: a burguesia,
querendo expandir o comércio; a i, mais privilégios; a igreja, querendo
expandir a fé. O infante D. Henriques participava da Ordem da Cruz de Cristo,
que levava a cruz de malta como símbolo da fé, que foi pintada nas velas dos
navios portugueses. Por muito tempo foi símbolo da esquadra portuguesa. A
orientação em direção ao norte da África, dominada pelos muçulmanos, dava o
caráter de Cruzada às primeiras expedições da Expansão Marítima e Comercial.
Lembrando que a cidade de Ceuta (no atual Marrocos) era rota dos mercadores
muçulmanos, por isso também alvo dos portugueses.
O Tratado de Tordesilhas
O Tratado de Tordesilhas foi assinado em 1494 pelos
os reis de Portugal e Espanha. Era a divisão do mundo entre estes dois reinos
pelo direito de exploração e conquista territorial. O tratado definia a divisão
do planeta em dois hemisférios, com uma linha vertical traçada a partir de 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde, no Atlântico.
Portugal não aceitou a Bula Inter
Coetera, de 1493, proposta pelo Papa, que dividia o mundo entre estes dois
reinos a partir de uma linha vertical distante 100 léguas do mesmo arquipélago.
Ao invés de entrarem em guerra, os monarcas resolveram a questão em um acordo
diplomático na cidade de Tordesilhas, na Espanha. É importante observar que,
antes mesmo de Tordesilhas, já havia o Tratado
de Toledo (Alcáçovas-Toledo - 1480), o qual já dividia o mundo entre os reinos
ibéricos com um paralelo dividindo o planeta em Norte e Sul, sendo que a parte
norte pertenceria à Espanha. Este tratado foi assinado após uma guerra entre
Portugal e Castela, se tornando, mais tarde, o motivo das discórdias entre
portugueses e espanhóis quanto às terras descobertas por Colombo. A apresentação do mapa
abaixo, sem o continente americano, é intencional, tentando simular o que os
europeus tinham na época.
O fato é que a
proposta do Papa de 100 léguas de Cabo Verde não pegaria as terras da América a
Oeste. O rei de Portugal estava orientado por Bartolomeu Dias, que já conhecia
o Atlântico sul (lembrando que foi em 1488 – 4 anos antes de Tordesilhas– que
Dias chegou ao Cabo da Boa Esperança). Os portugueses então aceitaram a linha
vertical, desde que “empurrada” 370 léguas de Cabo Verde, para “navegar
melhor”, afastado do litoral Africano.
As
Expedições
Como já dito, Portugal foi o primeiro a
se lançar ao mar. A partir da conquista de Ceuta, em 1415, iniciava-se o grande
período de dominação portuguesa no Atlântico, pois sozinho navegava os mares,
uma vez que os outros reinos estavam em guerra, sem poder fazer concorrência
com os lusitanos. A partir de então foi uma sequência de conquistas portuguesas
de 1415 até 1492. Neste ano, em nome da coroa espanhola, Cristóvão Colombo não
só iniciava a expansão marítima deste reino como também as suas conquistas,
colocando em risco a supremacia portuguesa. Para a Expansão Portuguesa, temos
algumas conquistas importantes como:
·
1415 – Conquista de Ceuta – Importante rota de
mercadores muçulmanos, onde havia comércio de sal, ouro, trigo, etc. Tratava-se
de “fincar uma lança na África” para iniciar as conquistas.
·
1424 – Ainda sob o comando de D. João I, o Infante
D. Henriques conquista as ilhas das Canárias e Açores.
·
1434 – O navegador Gil Eanes contorna o Cabo do
Bojador, dando início ao processo de seguida ao sul da África.
·
1484 – Diogo Cão chegou até a foz do rio Congo.
·
1487 – Bartolomeu Dias – contornou o Cabo das
Tormentas (depois chamada de Boa Esperança). Descobriu o local ao abortar a
missão de chegar às Índia, quando já estava retornando da expedição.
·
1497/98 – Vasco da Gama chegou a Calicute na Índia.
Chegou ao seu destino tomando uma nova medida na rota de navegação: afastou-se
da costa africana para contornar o Cabo da Boa Esperança, orientado por
Bartolomeu Dias.
·
1500 – Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil na
viagem que tinha mais o sentido de tomar posse de possíveis terras para além de
Tordesilhas. Porém o objetivo principal de Cabral era instalar feitorias nas
Índias (Calicute). Foi a maior expedição formada até aquele momento, a qual
Cabral foi munido de armas e homens para instalar um posto comercial em
Calicute.
·
1514 – O navegador Jorge Álvares atingiu a China.
Na verdade foram muitas expedições ao longo da costa da África, pois o
custo de cada expedição demandava intervalo entre uma e outra. Mas a viagem de
Bartolomeu Dias foi fundamental, pois ele orientou Vasco da Gama a se afastar
do litoral sul-africano para a rota até às Índias.
Já
a expansão espanhola dependeu da guerra da reconquista com a conquista de
Granada (1492), pois este era o último ponto controlado pelos muçulmanos. A vitória
dos espanhóis sobre os muçulmanos os permitiram formar seu Estado Moderno
Absolutista, dando condições para o início de suas expedições. O navegador
Cristóvão Colombo apresentou à coroa portuguesa um projeto de se chegar às
Índias navegando no sentido Oeste do Atlântico. Não sendo aceito em Portugal,
Colombo o fez à coroa espanhola, que encampou sua empreitada. Neste mesmo ano
de 1492 o Genovês chegou à América (na ilha das Bahamas) acreditando estar nas
Índias (por isso o apelido índios para os povos da América). Divergências entre
Portugal e Espanha em relação ao que Colombo descobriu gerou uma crise entre
esses reinos e resultou no Tratado de Tordesilhas em 1494.
Em 1504, o
cosmógrafo Américo Vespúcio, em missão para a coroa espanhola, constatou que a
terra a oeste se tratava de um novo continente. Como os rascunhos levavam o seu
nome, no mapa final o cartógrafo colocou seu nome no continente encontrado por
Colombo. Entre 1519 e 1522 Fernão Magalhães iniciou uma viagem de
circum-navegação pela terra, provando que ela era esférica. Ele mesmo não
completou a viagem porque morreu nas ilhas das Filipinas. Sua expedição chegou
ao final comandada por Sebastião Del Cano.
O
que é chamado de Navegações Posteriores (ou Tardias) são as expedições feitas
pelos reinos inglês e francês. Isso porque estes reinos estavam envolvidos em
conflitos político-militares entre eles e interno. A Guerra dos Cem anos
(1337/1453) entre França e Inglaterra por disputas de feudos franceses (herança
de nobres ingleses) e pelo domínio da
Consequências do processo
A Fundação de São Vicente – Pinacoteca da Fundação Benedito Calixto.
É claro que o processo de Expansão comercial e de conquistas territoriais traria muitas consequências tanto para a Europa quanto para as áreas dominadas ou contatadas. Podemos elencar algumas consequências mais triviais como o fortalecimento do poder real na medida em que fortalece economicamente o Estado Moderno com as conquistas comerciais e territoriais. A formação de impérios ultramarinos como o Império Ultramarino Português e o Império Ultramarino Espanhol, uma vez que instalaram colônias na América, na Ásia e na África. Ocorreu uma verdadeira revolução comercial, onde já se poderia falar em economia mundo, pois além da expansão marítima fazer crescer a atividade comercial e o seu volume, também interligou os continentes do mundo economicamente. Ocorreu o deslocamento do eixo comercial do Mediterrâneo para o Atlântico e o declínio das cidades comerciais italianas como Gênova e Veneza. Com o tempo a economia do Mediterrâneo ficou prejudicada pela diminuição progressiva do volume comercial.
Um
fato ocorrido como resultado deste movimento mercantil foi o aumento do fluxo
de metais para Europa gerando o que ficou conhecido como a Revolução dos preços,
pois os metais vindos da América Espanhola (ouro e prata) aumentou o volume de
circulação provocando inflação dos preços, afetando as classes mais pobres. A
destruição de civilizações com a dominação dos Impérios Inca e Asteca pelos
espanhóis não foi só uma consequência trágica, mas destruidora de culturas
milenares. A expansão do cristianismo por todo o planeta foi também resultado
deste processo, pois, ao lado da espada, estava a cruz em nome da igreja
católica. As ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, tiveram papel
fundamental nesta expansão.
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